Todos os anos, na sexta-feira após o segundo domingo depois de Pentecostes, a Igreja celebra a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. No sábado seguinte, recorda-se a Memória do Imaculado Coração de Maria.
Essas datas móveis no calendário litúrgico não são apenas momentos de beleza devocional: são verdadeiros apelos à conversão, à confiança e à consagração pessoal. Ao celebrar os Corações de Jesus e de Maria, o fiel católico é convidado a mergulhar no centro do mistério cristão — um mistério de amor oferecido e acolhido, de redenção e resposta, de doação e reparação.
O que é o Sagrado Coração de Jesus?
O Sagrado Coração de Jesus é celebrado como Solenidade. Portanto, ocupa o mais alto grau entre as celebrações litúrgicas. Isso se expressa na liturgia com o uso do Glória e do Credo, e na leitura de três passagens bíblicas. Seu núcleo espiritual é o amor misericordioso de Cristo por toda a humanidade, simbolizado em seu Coração envolto por espinhos, ferido, mas ardente em chama por cada um de nós.
Embora a devoção ao Sagrado Coração tenha raízes antigas, foi no século XVII que se consolidou de modo marcante, com as revelações privadas feitas a Santa Margarida Maria Alacoque, religiosa da Ordem da Visitação. Em 1856, o Papa Pio IX estendeu a celebração a toda a Igreja.
A espiritualidade do Sagrado Coração é profundamente cristocêntrica – isto é: centrada no mistério da Redenção pelo sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo. Contemplar esse Coração é reconhecer nele a fonte de caridade, justiça e reconciliação. O fiel é chamado a responder a isso com confiança, entrega e reparação.
E o Imaculado Coração de Maria?
Essa memória exalta o Coração puríssimo de Maria, inseparavelmente unido ao Coração de seu Filho. O Imaculado Coração representa a plenitude da graça, a docilidade total à vontade de Deus e a compaixão maternal pela humanidade, mesmo trespassado por “uma espada de dor” (Lc 2, 34-35).
As aparições em Fátima, em 1917, fortaleceram a devoção ao Imaculado Coração, culminando na consagração do mundo feita por diversos papas, entre eles São João Paulo II.
Diferenças e complementaridades
Enquanto o Sagrado Coração de Jesus manifesta o amor divino encarnado, o Imaculado Coração de Maria reflete a resposta humana perfeita a esse amor. Ambos os corações estão unidos no mistério da Redenção e são modelos para a vida espiritual.
Jesus é o Redentor; Maria, a Cooperadora. Jesus é o Coração que ama até o extremo; Maria, o Coração que acolhe, medita e oferece. Juntos, apontam para o caminho de santidade que passa pela união com Cristo e pela confiança filial em Maria.
Como viver essas celebrações?
A Igreja recomenda, sobretudo, a consagração pessoal e comunitária aos Sagrados Corações, a oração do terço, a participação da Santa Missa e a prática da confissão e da comunhão reparadora. Também é momento oportuno para refletir sobre a própria vida espiritual e renovar o compromisso com o amor de Deus.
Celebrar o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de Maria é, enfim, deixar-se tocar por esse duplo apelo de amor e conversão. É pedir e permitir que a graça aja em nós, para que nossos corações sejam alguma vez capazes de se assemelharem aos deles.